Bicas inicia uma nova revolução cultural e artística lembrando 22

22/10/2012 15:21

A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18 de fevereiro, teve como principal propósito renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. Mudar, subverter uma produção artística, criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências europeias, essa era basicamente a intenção dos modernistas. Durante uma semana a cidade entrou em plena ebulição cultural, sob a inspiração de novas linguagens, de experiências artísticas, de uma liberdade criadora sem igual, com o consequente rompimento com o passado. Novos conceitos foram difundidos e despontaram talentos como os de Mário e Oswald de Andrade na literatura, Víctor Brecheret na escultura e Anita Malfatti na pintura. O movimento modernista eclodiu em um contexto repleto de agitações políticas, sociais, econômicas e culturais. Em meio a este redemoinho histórico surgiram as vanguardas artísticas e linguagens liberadas de regras e de disciplinas. A Semana, como toda inovação, não foi bem acolhida pelos tradicionais paulistas, e a crítica não poupou esforços para destruir suas ideias, em plena vigência da República Velha, encabeçada por oligarcas do café e da política conservadora que então dominava o cenário brasileiro. A elite, habituada aos modelos estéticos europeus mais arcaicos, sentiu-se violentada em sua sensibilidade e afrontada em suas preferências artísticas.

A nova geração intelectual brasileira sentiu a necessidade de transformar os antigos conceitos do século XIX. Embora o principal centro de insatisfação estética seja, nesta época, a literatura, particularmente a poesia, movimentos como o Futurismo, o Cubismo e o Expressionismo começavam a influenciar os artistas brasileiros. Anita Malfatti trazia da Europa, em sua bagagem, experiências vanguardistas que marcaram intensamente o trabalho desta jovem, que em 1917 realizou a que ficou conhecida como a primeira exposição do Modernismo brasileiro. Este evento foi alvo de escândalo e de críticas ferozes de Monteiro Lobato, provocando assim o nascimento da Semana de Arte Moderna.

Depois de um pouco de história, nos remetemos à nossa pequena Bicas, interiorzão das Minas Gerais, onde resguardadas as proporções, a cultura teve seu auge na administração do saudoso prefeito Gilson Lamha, que ainda não encontrou substituto na oratória e no apoio à cultura de um modo geral dessa terra. Foi ele quem criou o 1º Festival de Artes de Bicas, com exposição de telas, esculturas e musicas feitas por biquenses. Na oportunidade tivemos grandes artistas locais que se destacaram em suas diversas atividades, como Athayde Raimundo Dutra de Moraes, pintor e escultor, de origem humilde, mas que foi detentor de vários prêmios em salas renomadas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte. Em Bicas apenas uma de suas obras ainda permanece como um marco dessa história recente – O Monumento ao Operário Biquense – hoje colocado estrategicamente em frente ao terminal rodoviário (antiga estação), que só não foi parar no lixão, graças a uma manchete do Jornal A Região que questionou o esquecimento do artista e sua obra.

 

 

Foto: O monumento ao Operário Biquense – por Athayde Raimundo Dutra de Moraes

Na mesma época destacamos aqui Amarílis Possas de Araújo, com suas telas magníficas, Walter Silva, Carlos Nobrega, todos participantes do Festival de Arte de Bicas, que foram caindo no esquecimento dos seus contemporâneos e nem chegaram ser conhecidos pelas atuais gerações.

Dos famosos festivais de musica, estudantil ou MPB, nunca mais se ouviu falar. Do encontro do biquense ausente, o famoso Enbiau então... Ao que tudo indica, nunca mais, depois de Gilson Lamha, nenhum administrador público se preocupou com a memória ou com a continuidade ao apoio à cultura biquense de fato.

Depois disso, artigos e mais artigos foram escritos por aqueles que sempre se preocuparam com esse estado de estagnação em que ficou a cultura, a arte e a música biquense, entre eles já tive a oportunidade de ler, Zé Arnaldo, Chicre Farah, Júlio Vanni e muitos outros que me perdoe não me lembrar no momento. Unânimes nos questionamentos sobre a identidade cultural biquense, principalmente na área da música. Quantos grupos surgiram e ficaram esquecidos, CBVJW5, cuja história merecia um livro, os Ratos de Quintal e agora os novos Eterno Aprendiz, Traços, Angu Mineiro e tantos outros grandes valores, como João Paulo Lanini, Ricardo e Suzana, Gabi Correa, etc, etc...

Resgatar nossa identidade musical já se faz uma necessidade antes que percamos de vez todos os nossos valores, que por certo irão para o esquecimento pelo desânimo ou pela falta de apoio e espaço para se apresentarem na cidade. É comum nos dias atuais, vermos nossos verdadeiros artistas se apresentando em cidades da região, Juiz de Fora, São João, Mar de Espanha e até mesmo Pequeri, que embora seja de menor porte, tem espaço para apresentação desses. Enquanto isso, Bicas, na contramão da cultura, não oferece qualquer espaço para apresentação nem dos próprios artistas locais, ficando órfãos de apoio e nós sem um local para curtir esses valores.

 

 

Foto: Angu Mineiro - Por Amarildo Mayrink

 

 

Com vistas ao resgate desses valores, da criação de espaços para que possamos prestigiar nossos artistas é que um grupo se formou e criou um movimento pela cultura biquense, renascido na Bomboniere do Nelson, na Praça São José cujo apoio tem sido de suma importância para o movimento que está tomando corpo e tal qual, em 1922, criando condições para cobrar o apoio dos órgãos públicos pelo principal propósito de renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. Resgatando a cultura biquense num todo.

Deusdet Rodrigues