Família questiona motivo da morte de vendedor em Bicas

16/05/2012 12:57

Familiares do vendedor de calçados de Franca (SP) Célio Nunes de Oliveira, de 41 anos, assassinado por um sargento da Polícia Militar em Bicas, no último dia 9, cobram maior agilidade nas investigações e transparência nas informações sobre as circunstâncias da morte do trabalhador. Dois irmãos e um cunhado da vítima vieram do interior paulista acompanhar as investigações da Polícia Civil comandadas, por ora, pelo delegado titular de Bicas, Sérgio Lamas. Representantes do Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) de Juiz de Fora também estiveram ontem na cidade para acompanhar o caso. A Polícia Militar alega que Célio reagiu a uma abordagem policial e teria sacado um revólver calibre 22, momento em que foi alvejado pelo sargento. A bala atingiu o tórax da vítima, que morreu. O crime mobilizou as cidades mineira e paulista, pois Célio era bastante conhecido em ambos os municípios. "Ele vinha a Bicas há mais de 20 anos. Todo mundo o conhecia. Jamais teve a necessidade de andar com arma. Todas as informações que recebemos até agora vão completamente de encontro ao que o assassino falou. O que aconteceu foi um assassinato a sangue frio. Isso não pode ficar impune", protesta o irmão da vítima, Wellington César de Oliveira. Célio deixou uma filha de 7 anos de idade. Conforme a coordenadora do CRDH, Fabiana Rabelo dos Santos, ainda há muitas informações truncadas, principalmente em relação à origem da arma, com numeração parcialmente raspada, que os policiais alegaram estar com o vendedor. "Também há pessoas que dizem que, quando o corpo foi colocado no camburão da polícia, a viatura foi no sentido oposto ao do hospital. Então, estamos tentando mobilizar todas as testemunhas que têm alguma informação."  O delegado Sérgio Lamas enviou ofício à PM, solicitando a presença do sargento e do soldado que dirigia a viatura para prestar depoimento. "Todas as pessoas envolvidas e mencionadas serão chamadas a dar explicações. Também estamos aguardando o laudo da necropsia, que ainda não veio do IML." Na versão oficial da PM, segundo consta no boletim de ocorrência registrado no dia do crime, a equipe comandada pelo sargento realizava uma patrulha no Centro da cidade, quando, por volta de 23h15, suspeitou de Célio, que, segundo os policiais, "já havia olhado por duas vezes para trás na direção da viatura". Quando a guarnição se aproximou dele, o sargento desceu da viatura com uma pistola ponto 40 em mãos e deu ordem para que o vendedor levantasse as mãos, aproximasse do carro da PM e apoiasse no capô da viatura. Neste momento, a vítima teria dito aos policiais que era morador de Franca, no Estado de São Paulo, e teria sacado uma arma de fogo. A ação teria motivado o sargento a atirar. Os policiais militares colocaram a vítima no camburão e foram para o Hospital São José, onde Célio já chegou sem vida. Além do revólver calibre 22 e quatro cartuchos intactos, os policiais apreenderam R$ 1.720 que estavam com o vendedor, além de dezenas de pares de sapato que estavam no furgão usado por Célio no trabalho. O veículo também foi apreendido. Em nota, o assessor do 2ª Batalhão, tenente Marcelo Alves, informou que "o militar continua preso no sistema carcerário do 2º BPM à disposição da Justiça Militar Estadual, para onde os autos do APF (auto de prisão em flagrante) foram remetidos. Com relação aos aspectos administrativos, o comando do 2º BPM está avaliando." Amigos e conhecidos de Célio usaram a internet para protestar. "Infelizmente, injustamente se vai um trabalhador, pai de família, batalhador", escreveu Anderson Costa nos comentários de um portal de notícias de Franca. "Estou indignado com esse assassinato. O Célio era um homem exemplar. A polícia de MG matou um trabalhador, uma pessoa honesta", disse Hernando da Costa. Já uma mulher identificada como Danielle escreveu: "Estou boba até agora. Sou moradora de Bicas, e comprávamos do Célio, uma pessoa encantadora".